Minha intenção era outra para o artigo desta semana. Entretanto, alguns acontecimentos de que tive o desprazer de tomar conhecimento me fizeram adiar o que escrevi para outra oportunidade.
“Quando eu era pequeno, eu achava a vida chata.” Aproveitando esse verso precioso de Lulu Santos, assisti a uma comédia com esse título. Foi de morrer de tanto rir, e voltamos no dia seguinte. Afinal, não se tinha muito o que fazer em Teresópolis quando eu tinha 10 ou 11 anos e passava o verão na cidade serrana do Rio de Janeiro.
Mais tarde um pouco, meu avô começou a me levar ao Maracanã para ver os jogos do Fluminense. Ele era Botafogo doente, tendo sido inclusive bilheteiro em General Severiano, o campo do time da estrela solitária.
Meu avô foi uma das pessoas que mais amei e amo até hoje, mesmo ele tendo falecido faz mais de 40 anos. Apesar disso, sofri muito com ele. O meu time nunca vencia o dele. Também, o ataque do alvinegro carioca era: Garrincha, Didi, Amarildo e Zagalo! Pessoalmente, torci muito para que eles morressem, imaginando que só assim o meu tricolor teria sucesso contra o time do meu avô. Eles saíram de cena. Aí veio o seguinte ataque: Rogério, Jairzinho, Roberto e Paulo Cesar. Desisti. Sabe o bom Deus o que viria depois que esses caras sumissem.
Mesmo assim, fui muitas vezes ao Maraca com um radinho de pilha. Calça curta, camiseta, e ele de calça com vinco, sapato de couro brilhando, camisa social, paletó e uma bolsinha plástica vermelha nas mãos. No intervalo do jogo, os torcedores à nossa volta paravam para ver o show que ele proporcionava. Tirava do paletó uma colher de prata e, da bolsa vermelha, um guardanapo de linho que apoiava nos joelhos e uma garrafa térmica. A tampa servia de cumbuca para ele derramar o seu mingau e saboreá-lo tranquilamente, sentado ao meu lado na torcida pó de arroz.
Claro que tenho saudades dessa época. E essas saudades existem por conta das pessoas, do meu avô querido. Não sou saudosista para dizer que aquele tempo era melhor ou pior. Longe disso. Hoje, quando vemos os grandes times jogar com seus elencos estrelados aqui no Brasil, deparamos com espetáculos lindos. Acho emocionante ver o Maracanã lotado com a torcida do Flamengo para assistir a uma partida contra o Madureira (com todo o respeito ao time de Conselheiro Galvão); ou ver o Allianz Parque com a torcida do Palmeiras incentivando loucamente seu time contra um de menor expressão aqui em São Paulo. Citei esses dois porque proporcionaram, para quem gosta de assistir ao futebol, um dos melhores jogos que já vi, na final da Supercopa, em Brasília.
Deveríamos estar vibrando com o esporte, mas o noticiário está mais para desencontros do que qualquer outra coisa. E isso torna tudo muito chato. Insuportável.
O show deve ser dentro das quatro linhas. E somente com os 22 jogadores. Não precisamos de um árbitro desfilando sua prepotência e antipatia só porque foi à Copa do Mundo. Ou de um técnico mal-educado fazendo exibição de contorcionismo, usando um vocabulário cheio de ofensas para discutir um lateral marcado contra seu time, com menos de cinco minutos de jogo. Não satisfeito com isso, tinha ele reservado o grand finale, chutando o microfone ambiente. Vida que segue. E seguiu. Passados três dias, vimos um jogador reserva do Flamengo, ao não ser escolhido para entrar em campo, atirar violentamente as chuteiras para longe.
Nesse meio-tempo eu, inocentemente, acabei sabendo que os sites oficiais dos clubes fazem memes contra seus adversários, de forma sutil ou mais direta, vamos dizer assim, incitando todos como se fossem inimigos e não adversários. Em minha modestíssima opinião, clubes são entidades que deveriam fomentar as competições, trazer o espírito de superação, vitória e tudo de bom que o esporte cria e constrói. Deveriam ter consciência do que aquela mensagem representa para os mais diversos tipos de pessoas que acessam esse conteúdo. Se não houver um adversário, não tem jogo.
Acho incrível como os envolvidos com o esporte não têm, em alguns aspectos muito simples, uma visão correta do valor dos assets que o esporte cria. Não estou me referindo a quanto vale colocar a marca na camisa do clube. Estou falando de tratar a marca do clube com a atenção que merece a marca de qualquer instituição. Aliás, muito mais atenção, pois estamos mexendo com a paixão das pessoas. E por isso mesmo deveria haver um enorme esforço para tratar esse assunto de forma positiva e dentro dos padrões das melhores práticas possíveis. Isso vale para desde o uso correto dos símbolos até o comportamento público de todos que carregam essa marca.
Para coroar o período, temos o Wallace e seu post em relação ao presidente da República. Acho que não faltou mais nada. Tivemos um pouco de tudo. Mas cabe ressaltar que, nesse caso, clube, confederação e COB agiram rápido para mostrar o total repúdio à atitude do atleta.
Meus amigos, marketing do esporte é algo extremamente complexo. Se você precisa ter uma vida cheia de emoções, escolha trabalhar nessa área. Eu, por exemplo, vivi um pouco de tudo isso. Sorte, ou melhor, competência, minha e de minha equipe, que conseguimos que determinados fatos fossem tratados de forma a construir e colaborar com o desenvolvimento de todos. É muito importante dar formação a essa turma, mas desde cedo. Trabalhar a educação, no sentido de saber se portar e se comunicar, e dar a cada um a noção do que é vestir a camisa de um clube patrocinado por uma instituição.
Comentarios